Festas e passeios noturnos sem controle ameaçam piscinas naturais de Maceió

Fonte: UOL
Por: Carlos Madeiro
O sucesso dos passeios noturnos às piscinas naturais da praia de Ponta Verde, em Maceió, se tornou uma preocupação ambiental pelo risco que submete aos corais em uma das áreas mais ricas da biodiversidade marinha do país. O caso foi parar no MPF (Ministério Público Federal), que apura os danos ambientais gerados pelo turismo hoje sem controle na área.Colunista do UOL
O banho de lua, como é chamado, virou uma das vedetes do turismo na capital alagoana, mas ambientalistas apontam que ele é ameaça e defendem uma regulamentação da ida ao local —que também é visitado durante o dia.
O passeio é feito em horários e dias variados, a depender da maré e da fase da lua. O cliente é levado ao local por jangadas e catamarãs, a preços a partir de R$ 50, até as famosas piscinas naturais — que estão a cerca de 1 km da costa, e onde permanecem por até três horas
A ida noturna ao local começou há poucos anos e virou um sucesso de público. Segundo a prefeitura, há dias que mais de 500 pessoas vão ao local. Lá são realizadas festas, que contam com luzes, som alto e shows.
Qual o temor?
O debate ganhou força a partir do dia 31 de janeiro, quando o pesquisador Robson Santos, do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), divulgou carta alertando para os danos ambientais que a superlotação nos passeios noturnos estavam causando nos corais. “O turismo depende de recifes de corais saudáveis”, alertou.
No documento, ele cita que a promoção de festas noturnas nos ambientes recifais “não está alinhada com práticas de turismo sustentável, comprometendo o próprio futuro das atividades de turismo.”
Atualmente, os corais de Maceió passam por um processo sem precedentes de branqueamento e morte por conta do calor das águas do Atlântico, que torna o ecossistema ainda mais vulnerável.
Os impactos de um turismo sem regramento em uma área recifal envolvem problemas com a ancoragem das embarcações e pisoteio dos recifes, o que leva a danos físicos diretos aos organismos do recife, como quebra, soterramento, dentre outros.
Segundo ele, estudos já demonstraram que a luz da lua tem um papel importante na desova dos corais, e a introdução de luzes artificiais podem fazer com que os corais não desovem.”
A iluminação artificial intensa pode desorientar organismos marinhos, afetar o comportamento e reprodução de corais e pode atrair predadores para áreas onde normalmente não estariam. Música alta pode afetar a comunicação e comportamento de peixes e invertebrados, além de estressar organismos sensíveis, como algumas espécies de peixes e tartarugas marinhas que utilizam os recifes como local de descanso
Além disso, ele cita que a exploração do turismo durante dia e noite “promove um impacto crônico contínuo aos ambientes recifais.” Hoje, o laboratório desenvolve um projeto de monitoramento dos recifes, qualificação do turismo e experimentos de restauração.
O turismo pode e deve ser uma ferramenta de conservação dos recifes de coral, pois ele ajuda a conectar as pessoas a estes ambientes, mostrar suas belezas, monitorar a sua saúde e perceber as suas fragilidades. Temos outras atividades alternativas de turismo noturno poderiam ser exploradas e que são de baixo impacto, como passeios de Stand-Up Paddle (SUP) ou caiaque, sem uso de iluminação intensa e ancoragem nos recifes, com guias treinados e em rotas seguras e pré-definidas
Comentários