Presidente do Paraguai diz que espionagem do Brasil reabre ‘velhas feridas’ da guerra

A rádio argentina, Santiago Peña fez referência ao conflito ocorrido no século 19. Funcionário da Abin relatou à PF suposta invasão aos sistemas do governo paraguaio, com o objetivo de obter dados sigilosos sobre valores em negociação de Itaipu, segundo o depoimento.
O presidente do Paraguai, Santiago Peña, disse nesta sexta-feira (4) a uma rádio argentina que a espionagem da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) contra autoridades paraguaias abre “velhas feridas” nas relações entre os dois países.
“É uma notícia bastante desagradável. Você sabe que o Paraguai tem uma história bastante dura na região, certo?”, afirmou Peña à Rádio Mitre, referindo-se à Guerra do Paraguai (1864-1870).
“Em um momento da nossa história, tivemos que enfrentar uma guerra de extermínio, que foi a Guerra da Tríplice Aliança, contra três irmãos — Uruguai, Argentina e Brasil — mas principalmente liderada pelo Brasil. E, depois da guerra, o Brasil permaneceu em território paraguaio por quase uma década. Essas são feridas que estamos buscando curar”, disse o presidente.
“E este episódio, infelizmente, apenas reabre essas velhas feridas, quando o que queremos é deixar para trás essa história de ódio e ressentimento, que vinha principalmente de fora para o Paraguai. Infelizmente, hoje percebemos que esses sentimentos ainda existem”, declarou.
Na quinta-feira (3), o Ministério Público do Paraguai abriu um processo criminal para investigar uma suspeita de espionagem digital pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que teria como alvo autoridades e agências paraguaias.
O governo do Paraguai já havia convocado o embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, para cobrar explicações sobre o suposto monitoramento da Abin no início da semana.
Um funcionário da Abin afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) que a atual gestão do órgão teria mantido operações de invasão hacker a sistemas do governo do Paraguai e de autoridades envolvidas nas negociações da usina de Itaipu.
O depoimento faz parte da investigação sobre uma suposta estrutura paralela existente na agência de inteligência (entenda mais abaixo).
De acordo com o depoimento, a ação tinha como objetivo obter dados sigilosos sobre valores em negociação no Anexo C do Tratado de Itaipu. O governo está negociando com o país vizinho as condições de comercialização da energia gerada na usina.
Comentários