Turismo predatório, favorecimento e omissão marcam gestão da família Vasconcelos

Nos últimos anos, o setor aquaviário de Maragogi, um dos destinos turísticos mais emblemáticos do Brasil, mergulhou em um processo alarmante de desorganização, favorecimento político e degradação ambiental. No centro dessa crise está o atual secretário de Governo do município, irmão do prefeito Daniel Mendes de Vasconcelos Ferreira, que ocupou por oito anos a Secretaria de Meio Ambiente na gestão anterior.
Durante sua antiga gestão, o então secretário promoveu o fim do sistema de rodízio das embarcações nas piscinas naturais — mecanismo que controlava a capacidade de carga dos catamarãs, limitando o número de visitantes por dia e garantindo a preservação dos ecossistemas marinhos. Com a extinção desse controle, iniciou-se uma corrida desordenada por lucros, resultando em superlotação, sobrecarga ambiental e perda significativa na qualidade da experiência turística.
O reflexo dessa desorganização é visível e alarmante: há um passivo ambiental gigantesco já em curso. Registra-se a morte generalizada de corais, alterações drásticas na profundidade das piscinas naturais — que, em algumas áreas, tornaram-se rasas a ponto de inviabilizar o desembarque de turistas — e danos irreversíveis à fauna marinha. E enquanto o ecossistema agoniza, a gestão municipal permanece inerte.
A situação se agravou ainda mais quando, paralelamente, a família Vasconcelos — hoje no comando da Prefeitura — passou a praticar uma política agressiva de preços em seus dois restaurantes, vendendo passeios de catamarã por R$ 25, valor quatro vezes menor do que a média histórica de R$ 120. A estratégia forçou a queda generalizada dos preços entre os concorrentes, gerando uma guerra tarifária predatória. Enquanto isso, embarcações ligadas à família do prefeito ou a seus aliados políticos passaram a desrespeitar regras ambientais com impunidade.
Em denúncias feitas por permissionários, consta que embarcações do secretário de Governo, incluindo os catamarãs Santo Aleixo e Fique Tranquilo, operam sem alvará e frequentemente excedem o número de passageiros permitido. Ainda segundo relatos, embarcações como Lagostão I e Lagostão III, supostamente pertencentes ao pai do atual secretário de Turismo e operando a partir de restaurantes da família do prefeito, também estariam funcionando sem as devidas autorizações e sem a pulseira ambiental — item obrigatório para o controle e monitoramento ambiental dos visitantes.
A desigualdade de tratamento entre operadores é gritante. Um permissionário relata que, ao ultrapassar em apenas uma pessoa o limite de passageiros, foi multado e impedido de desembarcar — enquanto o primo do prefeito, na mesma situação, teve sua embarcação liberada sem qualquer advertência.
O escândalo ganhou repercussão nacional. Em matéria veiculada pelo Fantástico, da TV Globo, o turismo desordenado de Maragogi foi exposto com imagens de embarcações — inclusive da família do prefeito — desrespeitando regras ambientais e operando de maneira predatória.
Desde que assumiu o cargo de secretário de Governo, o ex-secretário de Meio Ambiente tem sido chamado de “primeiro-ministro” pelos próprios colegas de gestão. Ele agora comanda uma equipe de fiscalização aquaviária liderada por um ex-coronel da Polícia Militar, responsável por aplicar centenas de multas a embarcações da oposição, ao mesmo tempo em que ignora reiteradas irregularidades cometidas por embarcações aliadas ao grupo político da situação.
O caos no setor já apresenta reflexos concretos: catamarãs afundando, lanchas explodindo, colisões constantes com moto aquáticas e um aumento generalizado na insegurança da navegação turística. Maragogi, que já foi exemplo de ordenamento e preservação ambiental, vive hoje uma crise institucionalizada, onde regras só valem para alguns.
O que esperar do futuro do turismo de Maragogi quando os próprios gestores, que deveriam dar o exemplo, são os principais protagonistas do desrespeito às normas ambientais e da exploração predatória das belezas naturais da região?
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